O ano é mil oitocentos e setenta e um. O Brasil começava a se desenvolver. Os bondes cortavam a cidade do Rio de Janeiro. Na Lapa reduto boêmio, a vida diurna e noturna fervilhava através dos seus Arcos, que servia de aquedutos e principalmente em uma praça anexa conhecida como Largo dos Pracinhas. Foi lá que Olavo viu pela primeira vez àquela que tornaria o seu coração apertado e ao mesmo tempo lépido.
Andava calmamente pelo Largo, indo em direção à repartição onde trabalhava. Era perto das nove da manhã, o Sol resplandecia através das árvores, e com a fog matinal que ainda teimava em ir embora criava um cenário lúdico lembrando as sombras de uma floresta.
Olavo buscava com os olhos esta imagem, quando distinguiu um vulto feminino vindo pelo Largo em sua direção. Imediatamente nada o despertou do torpor da observação, até que por um ínfimo momento, ao se cruzarem os olhos se encontraram. Esse momento se eternizou em sua mente, no exato instante em Leopoldina passou e abaixando a cabeça mudou olhar, como cabia fazer uma senhorita de família. Não havia mais o que fazer, a paixão dominara Olavo ali no Largo dos Pracinhas, e cobrou a sua paga não permitindo mais a serenidade da vida.
Olavo se colocou a seguir a moça, que acompanhada por sua dama de companhia, andava sem nada perceber.
Ela morava ali mesmo no morro de Santa Teresa, em uma casa grande, branca, com portões de ferro, e podia-se ver as iniciais de seu dono em um círculo, AB colocado no ponto mais alto do portão.
Leopoldina, ao adentrar o portão, notou o moço parado do outro lado da rua lembrou-se de tê-lo visto na praça e antes de se virar abriu os lábios em um sorriso inebriante, isso fez Olavo tremer e começar e planejar uma forma de encontrar novamente a moradora do solar.
Todos os dias Olavo parava em frente ao portão e esperava, já ia mais de duas semanas nesse intento e por quatro vezes a vira, sempre recebendo o mesmo sorriso em retorno.
Os enamorados nessa época, não tinham nenhum contato físico, entretanto as promessas contidas nos olhares eram muito fortes que qualquer noite de amor.
Certa feita pediu a um moleque que entregasse um bilhete a sua musa, lá estava escrito "Amo-te até a morte, se sentes o mesmo deposite todos os dias uma flor no portão principal até que possamos nos falar pessoalmente, Olavo".
Assim leopoldina fez, durante todo o verão depositava uma rosa no portão, e Olavo passava e a retirava.
Olavo não cabia em si, tinha o amor da mulher mais formosa da cidade do Rio de Janeiro. Precisava resolver logo esse assunto e ir falar com a família dela.
Porém a maldade do destino não tem limites, Leopoldina caiu doente. Enferma de um mal para o qual não havia remédio, e veio rapidamente a falecer. Durante todo o período que esteve doente pedia a sua dama para que colocasse a rosa no portão, sem nunca ter revelado o motivo. Depois da morte sua dama muito abatida com a perda precisava fazer algo para aplacar sua dor, e resolveu manter o costume de pendurar a rosa. e assim fez.
Olavo não sabia da morte de Leopoldina, estranhava nunca mais tê-la visto, mas acreditava que, se ela continuava a colocar a rosa é porque o amava. Assim continuou pegando as rosas todos dias. Jamais se casou, jamais voltou a ver Leopoldina, mas também nunca deixou de acreditar, até que um dia, quando completou sessenta e oito anos, pela primeira vez não viu a rosa no portão, não sabia mas a dama morrera no dia anterior. Sua dor foi profunda, pela primeira vez suas pernas perderam as forças, seus olhos encheram-se de lágrimas, os braços penderam sem forças seguindo o corpo já curvo pela idade. Andou um pouco e sentou-se no banco do Largo dos Pracinhas e lá morreu, não somente um homem ou um amor mas uma época.
Nenhum comentário:
Postar um comentário