Era um final de tarde como qualquer outro. O Outono no seu ápice tornava as folhas amareladas.
Nara andava pela rua comercial olhando os carros passarem rápidos. Pessoas apressadas cruzam umas pelas outras, esbarrando até, porém sem se preocuparem. Andam como se podessem resgatar algo já ido, algo perdido, algo não tido.
Observando e colhendo impressões parou a frente de um velho cinema. Ficou algum tempo olhando para a fachada imponente, ricamente trabalhada aos moldes coloniais, transpirando a força de uma época. Estava claro que por ali muito dinheiro havia passado, que famílias centenárias frenquentaram aquele salão para se deliciarem com as películas.
Na porta o cartaz de um filme que há muito deixara as salas modernas, e também não importava, sentia crescer dentro de si uma vontande enorme de entrar ali, de sentir o cheiro da velha madeira, o ar com certeza viciado por velhas histórias, talvez até por velhos encontros furtivos, pagou o ticket e entrou.
Ao atravessar a pesada cortina, recebeu no rosto uma lufada de ar pesado, que logo ao primeiro momento confirmou o que esperava. A troca do ambiente claro pelo escuro fez seus olhos perderem, momentaneamente a visão, que rapidamente se reestebaleceu.
Andou mais alguns passos e parou, olhou para o teto e pode perceber grossas vigas de madeira, essas trançadas criavam a sustentação do telhado. Não havia forro, ou uma lage, acima haviam somente as telhas antiquíssimas. Em dado momento percebeu um movimento em uma das vigas, eram alguns ratos que incomodados com a sua presença, estavam mudando de lugar.
Olhou para as cadeiras, não havia mais ninguém ali, além dela, somente os velhos fantasmas. Andou pelo corredor central até mais ou menos a metada das fileiras, ali escolheu uma cadeira também no meio e sentou.
Fechou os olhos e começou a imaginar como teria sido aquela sala cheia. imaginou o trânsito das pessoas pelos corredores, os pedidos de licença daqueles que precisavam passar na frente de alguém já sentado. Ouvia com clareza o farfalhar dos chapéus usados pelas damas da sociedade. Era uma festa, criancas corriam esbarrando no adultos, felizes e ansiosos pelo apagar das luzes e o início do filme.
Que época maravilhosa, um começo de século grandioso, industriais poderosos surgiram nesse período, construido e evoluindo uma cidade. Nara conseguia sentir na pele aquele momento, abriu os olhos no exato momento em que a única lâmpada da sala foi apagada para dar início ao filme. A música surgiu vigorosa, porém não tinha interesse pois já havia assistido. Ali naquele lugar só desejava conseguir reviver um tempo antigo. Fechou novamente os olhos.
Um grito a assustou e abriu rapidamente os olhos, a gritaria era geral todos em polvorosa se acotuvelavam para sair daquele lugar, ficou pasmada por um instante, de onde surgiram aquelas pessoas? por que todos estavam tão desesperados? Nesse momento um espaço surgiu entre a balburdia e poder ver um homem deitado no chão do corredor, olhando fixamente para cima e no seu peito uma faca estava cravada.
Seu sangue gelou, voltou a se sentar para conseguir tomar pé da situacão. Olhou para si mesma e já não vestia o Jeans e camiseta com os quais saira de casa, agora estava com um vestido azul muito bonito, calçava luvas brancas até os cotovelos, independente do terrível momento podia dizer que estava bonita. Esforçou-se e olhou novamente para o homem deitado, que agora olhava para ela e com uma das mãos a chamava. Juntando do fundo da alma toda a força que restava foi até ele.
Ao chegar ajoelhou-se e ele segurou seu braço. Falando com dificuldade repetia, Esmeralda, Esmeralda. Nara percebeu ele morreria em breve, e como não conhecia nenhuma Esmeralda disse ao homem que ia chamar ajuda. Ele não deixou segurando mais forte em seu braço. Repetia novamente: Esmeralda, Esmeralda e apontava com a outra mão para uma cadeira no corredor a direita, mas, Nara não via niguém ali sentado, com o coração aos pulos tentou novamente se desvenciliar daquela mão que gradativamente perdia as forças. Sentiu mais medo quando viu uma mulher morena surgir no meio da turba que ainda havia ali.
Vindo na direção deles a mulher tinha na face um ar resoluto, como alguém que tinha algo para concluir. Será que ela havia esfaqueado aquele homem? Será que voltou para terminar o serviço? Suava frio a cada passo dado pela mulher na direção deles, quando ela quase havia alcançado os dois, o homem a chamou pelo nome e disse: Nara cuide da esmeralda, e apontando mais uma vez para a cadeira morreu, no momento em que a morena chegou e chorando muito abraçou ao homem.
Um tiro no filme fez com que Nara acordasse, estava de volta a velha sala, olhou para a tela e viu os créditos subindo. Virou para o lado e percebeu que estava na mesma cadeira do sonho. Levantou-se foi andando e ao chegar no corredor olhou para o tapete do piso, e por um momento pareceu notar uma mancha. Olhou para a outra fileira e viu a cadeira apontada pelo homem, foi até lá e sentou-se na cadeira, deixou-se ficar ali por momento. Sem saber bem porque levantou e em seguida ajoelhou-se para olhar embaixo da cadeira, percebeu que havia um rasgo no fundo que dava acesso a parte interna da cadeira, colou a mão pela abertura e durante algum tempo procurou por algo que não sabia o que era. Procurou ávidamente, e suava, suava bastante, porém nada encontrou, com um sorriso no canto dos lábios disse a si mesma que, aquilo tudo havia sido somente um sonho. E novamente riu, agora alto e esfuziantemente repetindo: o que eu pensei que iria encontrar ali?
Levantou-se e foi andando para fora do cinema deixando para tráz o sonho de uma época, que no fundo no fundo, não deve ter sido tão diferente de hoje.
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